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MVC em números

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Mercados voluntários de carbono podem financiar uma ampla restauração florestal e gerar benefícios socioeconômicos substanciais

Como os mercados de carbono podem salvar as florestas do Brasil

Uma economia de carbono neutro: esse é o objetivo de empresas de todo o mundo à medida que elas definem compromissos ambiciosos de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE). No entanto, apesar dos esforços para descarbonizar suas atividades, muitas organizações ainda têm dificuldades para alcançar progresso consistente na eliminação de suas emissões. Nesse cenário, o mercado voluntário de carbono pode ajudar as empresas a compensar as emissões em sua jornada para neutralizar as emissões líquidas.

 

De acordo com o Taskforce on Scaling Voluntary Carbon Markets (TSVCM), a demanda por créditos de carbono pode aumentar 15 vezes ou mais até 2030 e até 100 vezes até 2050. O TSVCM também estima que a maior parte do potencial de geração de crédito de carbono (65–85%) provém das Soluções Climáticas Naturais (SCN)¹.

Potencial das soluções climáticas naturais e do crédito de carbono no Brasil

Por meio da conservação, restauração e gestão do uso da terra, as Soluções Climáticas Naturais visam evitar as emissões de gases do efeito estufa ou aumentar o armazenamento de carbono em ambientes naturais. Essas soluções podem abordar a dupla crise de mudança climática e perda de biodiversidade. Com mais de um quarto das oportunidades globais de reflorestamento e conservação florestal, o Brasil se destaca como o país com maior potencial de geração de crédito de carbono até 2030. Respondendo por 15% da oportunidade de sequestro de carbono por meio das Soluções Climáticas Naturais, ele é também o país com maior potencial de adoção de práticas agrícolas sustentáveis.

 

Pesquisas sugerem que o Brasil tem potencial para gerar de 1,2 a 1,9 gigatonelada de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e) por ano em créditos de carbono até 2030; 90–95% desse volume seria de projetos baseados em NCS, como restauração de florestas (reflorestamento e aflorestamento), conservação florestal (REDD+)² e agroflorestas (ver Quadro 1)³.

Quadro 1

Potencial do Brasil na geração de créditos de carbono em 2030, por tipo de projeto - considerando US$ 25-35/tCO2eq

1,2 - 1,9
0,6 - 0,9
0,2
0,2 - 0,5
0,2
0,1 - 0,2
Potencial de geração de crédito de carbono (GtCO2eq)

Valorização Energética de Resíduos, Carbono Azul e Outros

Agricultura e Uso da Terra

REDD+ Jurisdicional

Reflorestamento Total

Adensamento e Enriquecimento Florestal

Além das vantagens econômicas, os créditos de carbono de NCS também geram vários cobenefícios, incluindo proteção à biodiversidade, segurança hídrica, prevenção à erosão e desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais. Estimativas sugerem que, para cada dólar proveniente dos benefícios da ação climática⁴, a comunidade local recebe um retorno socioambiental líquido de US$ 1–4 em termos de criação de empregos, desenvolvimento comunitário e serviços de ecossistema⁵.

Entender o potencial impacto socioeconômico do mercado voluntário de carbono (MVC) nas comunidades locais pode ajudar a expandir o mercado

O crescimento exponencial do MVC, com aumentos de preço estimados em até US$ 100/tCO2e até 2030⁶, pode trazer benefícios socioeconômicos substanciais para o Brasil, considerando o potencial das Soluções Climáticas Naturais.

 

Visando avaliar esses benefícios, dados do IBGE, Nature Conservancy e World Bank foram utilizados para estimar o impacto de projetos de SCN no Valor Agregado Bruto to (VAB) e nos empregos (veja Box 1 para detalhes na metodologia utilizada). Três diferentes projetos de NCS foram considerados: reflorestamento e aflorestamento; REDD+; e Agroflorestas. Os efeitos socioeconômicos líquidos desses projetos foram estimados por meio da comparação de seus resultados com os resultados da criação de gado, atividade econômica comum em áreas rurais brasileiras.

Caixa 1

Metodologia para estimar impacto do Mercado Voluntário de Carbono (MVC) no Valor Agregado Bruto (VAB) e em empregos

A avaliação foi tabelas nacionais de insumo–produto do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O impacto líquido de substituir as atividades de criação de gado em pastagens degradadas por projetos de restauração florestal foi estimado a partir de dados de gastos de capital (capex) e gastos operacionais (opex) da The Nature Conservancy e do Banco Mundial. Os custos estimados de REDD+ e agroflorestas foram considerados incrementais, sem custo de oportunidade. Dados de custos e práticas de restauração usadas no modelo pressupõem condições ambientais difíceis associadas a pastagens degradadas. Por essa razão, os resultados do trabalho e do valor econômico adicionado devem ser interpretados como potencial máximo, não como projeção precisa.

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Quadro 2

Estrutura utilizada para estimar os impactos econômicos dos projetos de Soluções Climáticas Naturais (SCN)

Reflorestamento/
Adensamento Florestal

CAPEX

Localização das fronteiras
Plano inicial de gestão de terras
Preparação do local
Mudas
Plantio manual

OPEX

Manutenção das fronteiras
Atualizar o plano de gestão
Gestão de queimadas

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Dados da The Nature Conservancy e do Banco Mundial

Pecuária*

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OPEX

Salários
Sal e ração
Vacinas, inseminação e vermífugos
Calcário e limpeza da Pastagem
Sementes

Cercamento e melhorias
Combustíveis
Trator
Gado
Administrativo

Dados do IHS Markit

*Apenas os custos de OPEX foram usados para estimar os empregos do gado, uma vez que as fazendas de gado já estão presentes nas áreas de restauração visadas

REDD+

CAPEX

Estudo de viabilidade

Implementação do projeto

OPEX

Salários para especialistas

Patrulhamento

Logística

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Dados da The Nature Conservancy e do Banco Mundial

Agrofloresta

CAPEX

Transição da pastagem para o sistema silvopastoril
Programa educacional + assistência em espécie + custos administrativos

OPEX

Manutenção agrícola e florestal
Manutenção animal

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Dados da The Nature Conservancy e do Banco Mundial

Considerando os quatro maiores biomas brasileiros⁷, que representam 96,1% do território nacional⁸, o mercado voluntário de carbono no Brasil poderia liberar até 83,9 milhões de hectares de terra para projetos de NCS, incluindo atividades de restauração e implantação de agroflorestas em áreas degradadas. Se considerados isoladamente, os projetos agroflorestais podem envolver mais de 20 milhões de hectares de pastos severamente degradados. Esses resultados foram obtidos considerando-se um intervalo do preço do crédito de carbono de US$ 25–35 por tonelada de CO2e, em linha com estimativas conservadoras para 2030 e para os anos seguintes⁹. Analisando os potenciais benefícios econômicos desses projetos, o VAB varia entre US$ 16 e 26 bilhões por ano, impulsionado principalmente por projetos de restauração.

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Além da mitigação das mudanças climáticas, os créditos de carbono baseados em NCS também geram outros impactos ambientais e socioeconômicos positivos

Quadro 3

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1,2—1,9

GtCO2eq/ano

Projetos de reflorestamento e recuperação florestal, REDD+ e agrofloresta correspondem a ~90-95% do potencial nacional de créditos de carbono

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16-26 bi

USD/ano

Impacto no Valor Bruto Agregado, com um preço de carbono de 25-35 USD/tCO2eq, considerando atividades REDD+, agroflorestais e de reflorestamento em áreas de pastagens degradadas

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550 a 880 mil

Empregos por ano

Impacto positivo líquido em empregos, dos quais ~60% estão localizados onde o projeto acontece (p.ex., geração de mudas, gestão florestal, etc.)

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Além disso, as Soluções Climáticas baseadas na Natureza (NCS) também estão associadas a diversos cobenefícios, incluindo proteção à biodiversidade, segurança hídrica, resiliência climática, etc. 

O MVC pode estimular a criação de empregos em áreas rurais e reduzir substancialmente os incentivos ao desmatamento

Também investigamos a criação de empregos por meio de projetos de Soluções Climáticas Naturais. Restauração, agroflorestas e REDD+ podem gerar 550–880 mil empregos líquidos por ano, dos quais aproximadamente 57% são empregos diretos e concentrados no local de implementação dos projetos. A maioria dos empregos concentra-se em atividades agrícolas, de manutenção e reparos. 18% desses empregos são indiretos e provavelmente estarão na mesma mesorregião ou estado, incluindo setores como agricultura, varejo e transportes. Os demais 25% dos empregos também são indiretos e provavelmente estariam distribuídos pelo país, incluindo setores como atividades financeiras, petróleo e comércio atacadista.

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Restauração florestal, agroflorestas e REDD+ podem gerar até 880 mil empregos/ano, sendo ~57% deles no local onde ocorrem

Quadro 4

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Distribuição do total de empregos

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Distribuição de empregos por setor
%

Analisando os 15 municípios com maior taxa de desmatamento no Brasil¹⁰, o desenvolvimento de projetos de NCS em pastagens degradadas pode sequestrar cerca de 180 milhões de toneladas de CO2e, com impacto líquido anual de quase 27 mil empregos e US$ 650 milhões em VAB.

 

Analisados individualmente, 13 dos 15 municípios experimentariam impactos socioeconômicos positivos se substituíssem a criação de gado por projetos de restauração florestal. Na verdade, regiões com baixos níveis de densidade e produtividade do gado concentram a maior parte do impacto econômico líquido dos projetos de restauração, uma vez que esses dois indicadores despontaram como a principal alavanca para o custo de oportunidade dos projetos de restauração.

 

Além do custo de oportunidade, a intensificação de atividades agrícolas como a criação de gado tem o potencial de reduzir a pressão sobre novas áreas agrícolas. Isso deve ajudar a promover o equilíbrio entre desenvolvimento agrícola e proteção florestal em economias emergentes como o Brasil¹¹.

 

Por isso, a economia de carbono tem potencial para mudar a perspectiva econômica dessas áreas por meio da oferta de fortes incentivos socioeconômicos para manter as florestas em pé, em vez de derrubá-las para o desenvolvimento de outras atividades agrícolas, sem afetar a produtividade da agricultura no Brasil.

Coordenação entre os principais atores é necessária para expandir o MVC no Brasil 

Atualmente, o Brasil está aproveitando menos de 2% do seu potencial anual total¹². Considerando o potencial desenvolvimento do MVC no Brasil, fica evidente que a coordenação entre as diferentes partes interessadas do mercado é fundamental para destravar e dar tração a esse mercado. Por essa razão, a Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono (BR VCM) foi criada. Ela tem o objetivo de organizar e canalizar esforços para identificar gargalos no mercado e criar mecanismos para impulsionar o MVC do Brasil a atingir seu pleno potencial.

notas

1. O projeto de Soluções Climáticas Naturais busca catalisar o entusiasmo global pela redução do carbono por meio da restauração de ecossistemas, a ferramenta mais subestimada e subfinanciada para mitigação das mudanças climáticas

2. Reduzir as emissões de desmatamento e degradação florestal em países em desenvolvimento (REDD+)

3. Análise baseada em dados da McKinsey Nature Analytics, IBGE, Mapbiomas, Network for Greening the Financial System e The Nature Conservancy, considerando um intervalo de preço do crédito de carbono de US$ 25–35 por tonelada de CO2e, em linha com estimativas conservadoras para 2030 e para os anos seguintes

 

4. Benefícios da ação climática provenientes de créditos de carbono de alta integridade gerados por projetos de conservação, aflorestamento/reflorestamento e manejo florestal sustentável

5. Valuing Impact e Relatório Natura Integrated Profit & Loss 2021

6. The Network for Greening the Financial System (NGFS)

7. Floresta Amazônica, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga

8. IBGE/MMA

9. The Network for Greening the Financial System (NGFS) estima preços de carbono entre $100 e $200 por tCO2e em 2030, com aumento acentuado desses valores até 2050

10. Municípios com maior taxa de desmatamento de acordo com o PRODES (Inpe) de 2000 a 2018

11. Cohn, AS et al. 2014. Cattle ranching intensification in Brazil can reduce global greenhouse gas emissions by sparing land from deforestation. Proceedings of the National Academy of Sciences, 111 (20), 7236-7241

12. De acordo com os registros da Verra e da Gold Standard, 21 MtCO2e de créditos de carbono foram emitidos no Brasil em média por ano entre 2019 e 2021

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